A OAB quer fazer a sociedade crer que a especificidade da advocacia é tamanha, que exige uma avaliação maior que a realizada durante os cinco anos em que o bacharel permaneceu na faculdade, até porque existiria um risco imposto à essa mesma sociedade pelo exercício inadequado da profissão.
No entanto, como defensora dessa sociedade, jamais tomou nenhuma medida para que profissões nas quais o erro representa a inevitável perda de vidas humanas passassem pelo mesmo rigor na concessão do "direito" de exercê-las.
Aparentemente a OAB não vê riscos em um médico realizar uma cirurgia com o coração exposto no lado externo do corpo, ou um engenheiro projetar e construir um prédio no qual habitarão centenas de pessoas. Pelo menos não mais que um advogado atuar sem ser avaliado pela "Ordem".
Outro ponto interessante a ser avaliado é a falta de transparência, tanto na elaboração do conteúdo dos exames, como quanto à sua aplicação e avaliação, com total ausência de regras claras e uniformes (se existem, desconhecidas).
A coordenadora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Ana Frazão, acha que é temerário deixar a cargo do mercado a regulação da oferta de mão de obra em uma profissão que mexe tão profundamente com a vida das pessoas. “O exame é fundamental para que mesmo a pessoa de baixa renda saiba que vai contratar um profissional que passou por um teste de qualidade e tem os requisitos mínimos para lutar por seus direitos”.
Posso estar errado, mas me parece que todo o rigor na seleção não permitiu que a "doutora" fosse capaz de entender o real significado de "mexer profundamente com a vida das pessoas". Quem mexe profundamente com a vida das pessoas é o cirurgião, o engenheiro, o bioquímico. Na mais extrema das avaliações, de poucos improváveis cenários, alguém correria algum risco de vida diante a incapacidade de algum advogado conseguir uma liminar que obrigasse alguma instituição a realizar procedimento médico ou algum órgão a fornecer medicamento essencial. E alguém ouviu falar de que a OAB, agindo na defesa da sociedade procurasse garantir algum "Exame da AMB", ou "Exame do CREA"? Claro que não.
A falta de transparência vai mais além do que se percebe em uma primeira análise. Não recordo de já haver visto a divulgação dos valores arrecadados pela Ordem, sua destinação e gestão.
O Movimento Nacional dos Bacharéis de Direito, do Rio de Janeiro, questiona os interesses em volta do próprio exame (eu também, e creio a sociedade esclarecida, também). Segundo Vinicius Di Cresci, presidente do Movimento: "A OAB arrecada R$ 25 milhões por exame (R$ 75 milhões por ano), sem contar com os altos investimentos que os bacharéis têm que fazer em cursinhos que já até foram oferecidos pelas próprias seccionais da instituição".
Além disso, há um gigantesco mercado paralelo que subsiste dos Exames da Ordem, com cursos preparatórios, edição de livros, apostilas, CDs, DVDs, etc. Ainda não consegui vislumbrar outra finalidade, salvo preservar essa milionária arrecadação e esse gigantesco mercado, para esse Exame da Ordem. Eu não permito que um cirurgião reconhecidamente incapaz realize qualquer procedimento comigo ou qualquer membro de minha família, assim como não construiria uma casa com um engenheiro não capacitado. Isso se chama regulação de mercado e funciona para todas as demais profissões do planeta. Porque não funcionaria para a advocacia?
Porém, não nos iludamos, pois em nosso país de dimensões continentais nada está tão ruim que não possa piorar e a AMB, ciente do tamanho do filão econômico envolvido nos "Exames de Classe", pleiteia junto ao Congresso a aprovação de projeto de Lei para a obrigatoriedade de exame similar pelo órgão classista dos médicos. Posso estar novamente enganado, mas, tais exames deveriam ser aplicados pelo MEC, ou pelas próprias universidades, e não pelo "sindicato classista".